terça-feira, 11 de junho de 2013

Brincando de Esconde-Esconde

*Por Alex Villegas

Não importa o que digam os puristas. Fato é que não existe uma “imagem original” no sistema digital. Toda captura é uma gema bruta que passa por lapidação antes de se tornar efetivamente uma imagem. E o que podemos fazer da gema através dessa lapidação? Tudo é possível, mas um dos recursos mais usados é o clareamento/escurecimento de áreas seletivas da imagem.

Não se trata de HDR, porém, já que o HDR se destina a trazer a latitude da imagem toda para dentro da capacidade de impressão – um determinado tom escuro será clareado em toda a imagem, independente de estar no primeiro plano ou no fundo. Alteração seletiva de tons é algo um pouco mais artesanal, acrescido de algo que acredito ser um ingrediente indispensável na pós-produção: julgamento humano, devidamente guiado por referências visuais.

No laboratório químico, esse processo era chamado de Dodge & Burn e era feito na hora de ampliar a imagem. Com o negativo projetado em cima do papel, eram usados pequenos protetores de papel (ou a mão mesmo) para bloquear a projeção dessa imagem – fazer sombra em determinados locais do papel durante sua exposição. Áreas que recebessem a projeção por menos tempo ficavam mais claras, áreas que recebessem a projeção por mais tempo ficavam mais escuras.

O processo requeria muita prática e habilidade e alguns impressores ficaram conhecidos devido à sua excelência, como Dominique Granier (que fez muitas das impressões de Sebastião Salgado) e Tom Baril, que fez os prints de Robert Mapplethorpe por cerca de dez anos.

Na versão digital, há algumas vantagens absolutamente esmagadoras. Primeiro, é possível mudar de ideia em qualquer fase do processo. Usando uma tablet, é possível proteger/expor áreas com extrema precisão e suavidade. Não é necessário desperdiçar toneladas de papel fotográfico, nem é necessária toda a estrutura de um laboratório químico – laboratórios digitais são mais fáceis de implementar. Mas nem tudo é festa: apesar da facilidade dos dias atuais, sensibilidade ao executar o processo ainda conta horrores.

Em primeiro lugar, uso o Photoshop – camadas e pincéis mais elaborados, além de sensibilidade à pressão da tablet, são requisitos essenciais, na minha opinião, embora seja perfeitamente possível fazer o processo no Lightroom, apenas é mais trabalhoso. Também adianto que é um processo que leva tempo, e não é automatizável. Nesse caso, qualidade e uma maior atenção à sua imagem fazem parte da coisa, então esqueça a ideia se for trabalhar com centenas de originais. Tratar algumas dezenas é objetivo perfeitamente viável, mas lembre-se de ajustar cuidadosamente os seus prazos.

Abra a sua imagem no Photoshop e preste atenção à paleta Layers, especialmente ao pequeno menu existente na parte de cima.

MODOS DE MESCLAGEM

Um dos recursos menos conhecidos do Photoshop são os modos de mesclagem – maneiras como uma camada interage com a camada de baixo. Há infinitas possibilidades para se trabalhar com essas interações e misturas entre as camadas (é minha maneira favorita de utilizar o Photoshop), mas, para este tutorial aqui, apenas três modos são importantes:

NORMAL – é aquele em que trabalhamos sempre. Uma camada se sobrepõe à de baixo, ocultando-a completamente – a menos que sua opacidade seja reduzida, então elas se mesclam suavemente.

SCREEN – multiplica o inverso dos valores numéricos das duas camadas juntas, o que cria sempre tons mais claros do que os originais (a não ser no caso do preto). Vamos usar este modo de mesclagem para clarear partes da imagem.

MULTIPLY – multiplica os valores numéricos das duas camadas juntas, o que cria tons mais escuros do que os originais (excetuando branco). Este modo, obviamente, vai ser utilizado para escurecer

Trabalhando

A estratégia é simples: para clarear a imagem, vamos aplicá-la sobre ela mesma usando o modo Screen, e para escurecê-la, aplicamos novamente a imagem sobre ela mesma usando o modo Multiply. Não funciona com a imagem toda: precisamos fazer essas aplicações de maneira localizada. Vamos usar as máscaras de camada.

Já que sua imagem está aberta no Photoshop, aproveite e crie duas cópias da camada de base (background), arrastando a miniatura da camada na paleta Layers para o ícone de nova camada, na base da paleta – é um quadrado com o cantinho inferior direito dobrado. Renomeie a primeira cópia como Dodge e mude seu blending mode para Screen. Renomeie a segunda como Burn e mude seu blending mode para Multiply.

Esconda essas camadas. Pressione Option (Alt no PC) e clique no ícone de máscara de camada, na base da paleta Layers – é um quadradinho com uma bolinha dentro. Faça isso na camada Dodge e na camada Burn e terá duas camadas, cada uma com sua máscara de camada preta.

Agora, selecione a ferramenta Brush (pressione B) e pinte com branco na máscara de camada preta de cada uma das camadas. Pintar com branco na máscara da camada Dodge irá clarear as áreas pinceladas, e fazer o mesmo na máscara da camada Burn irá escurecer as áreas pinceladas. É possível controlar a intensidade das alterações tanto de forma local – alterando a opacidade do pincel – como de uma forma global – alterando a opacidade da camada Dodge ou Burn.

Pratique bastante – no começo, irá criar halos marcados e detonar a imagem. Nesse caso, basta voltar atrás um ou dois passos no histórico, ou pintar novamente de preto a área exagerada. Na pior das hipóteses, comece de novo. Em pouco tempo, você terá sensibilidade para extrair belos contrastes localizados em suas imagens.


Portal Photos | Fotografia e Arte
Modo de mesclagem Screen Foto: Alex Villegas
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Modo de mesclagem Multiply Foto: Alex Villegas
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Não esque?a de verificar se está pintando na máscara de camada Foto: Alex Villegas
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Um retrato simples ganha nova dimensão com aplicação criteriosa de Dodge & Burn Foto: Alex Vilegas
*Alex Villegas é fotógrafo e “photoshoper”, autor do livro O Controle da Cor, sobre gerenciamento de cores

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