sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Para não dizer que não fotografei as flores

Perdi as contas de quantas vezes escutei algum fotógrafo criticar os tipos de registros “preferidos” pela maioria dos iniciantes, ou o simples fato de fotografarem demais. O que sempre me incomodou foi o tom dessas observações, pouco construtivas, sarcasticamente destrutivas e na maioria das vezes feita por gente estagnada. Acho engraçado, principalmente porque não há como pular o amadorismo fotográfico, o que envolverá vários cliques, geralmente de assuntos comuns e pouco justificados visualmente.

Através das lentes o mundo se torna tão fascinante que empolga, vicia, e pode até fundamentar tantas fotos de flor, inseto, bicho de estimação, céu, denúncias urbanas, autorretrato privilegiando a máquina e não o autor… Importante é digerir bem essa fase.

Melhor será se conseguir passar por todas essas etapas e tentações de uma forma criativa, afinal, o clichê não precisa ser chato e desgastante. Há um universo de ângulos, enquadramentos e possibilidades.

A questão não é incentivar trabalhos ruins, mal elaborados, vazios… Convenhamos, o determinante nunca foi o quão frequente um registro é, mas tropeçar nisso é fundamental.



Escalando o ponto comum o futuro profissional se identificará com a sua preciosa área, não é uma regra, mas será revendo os registros depois de um crescimento técnico e cultural, que muitos deles selecionarão sua linha, conduta, e desenvolverão seu trabalho, a partir disso, enfim “profissional”.

Nasce a reflexão prévia, mas instantânea, a cautela automática no disparador, o escape criativo, a captação essencial de conceitos técnicos, aquele que aposta menos na sorte e confia na própria capacidade, um profissional com vergonha do amador, exatamente porque foi um, e que busca se libertar de tantas regras.

Ninguém alcança o auge sem alguns deslizes e muito menos repetindo conceitos formados sem um bom argumento, ou ao menos sem entender, estudar, cultivar, e ainda assim não estaremos livres de praticar alguma tolice.

Alguns sequer conseguiram ultrapassar o tal amadorismo, mas imperam classificando o que é certo ou o que é deselegante.

A informação corre solta na internet, a liberdade de expressão é fabulosa, ajuda muito, mas perdemos o senso de classificação, em que acreditar? Nos que odeiam flash, nos que amam analógicas, nos que desprezam a edição de imagens ou nos que vangloriam Cartier-Bresson?

É hobby, entusiasmo ou profissão? Será que suas 100 fotos de hoje são tão aproveitáveis quanto as 300 de ontem? Ou será que se acostumou com a falta de qualidade e acreditou num potencial natural? Deu razão a todos os elogios, desprezando as críticas? Hoje começaria como a sua carreira?



Questione, resista, reflita, não se contente, valorize o poder das imagens.
Que sejamos sinceros, para as banalidades fotográficas já podemos usar o Instagram e culpar o celular.

Nada mais justo do que começar parafraseando Geraldo Vandré, e ainda finalizar com o famoso refrão, inspirando uma profunda reflexão:

“Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer”.

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